Uma coisa no futebol e no comportamento das torcidas que
costumo achar engraçado é como o torcedor, no geral, sempre acha que o elenco
do seu time é melhor do que é, de fato. Então, se o time não joga, a culpa é
sempre do treinador. Agora que estou plenamente convencido de que pro futuro do
Corinthians seria interessante a troca de técnico, pergunto-me se não estou
incorrendo no mesmo erro de avaliação que a maioria dos torcedores de outros
times incorre.
Vejamos. Achava estranho a torcida do Palmeiras culpar o
Felipão pela má fase do time ano passado; aliás, com aquele elenco ridículo ele
foi campeão da Copa do Brasil, e talvez até tivesse conseguido escapar do
rebaixamento (o desempenho de Kleina chegou a ser pior em % de pontos
conquistados). Achei a decisão do Vasco de mandar o Cristovam embora errada,
pois com aquele elenco limitado e envelhecido conseguiu dar continuidade ao bom
desempenho alcançado pelo Ricardo Gomes e disputar ponto a ponto o título do
brasileiro com o Corinthians. Mais recentemente, Oswaldo de Oliveira, que com
sérias limitações financeiras e um elenco bastante limitado, pôs o Botafogo
para jogar uma bola bem razoável e está disputando ponto a ponto uma vaga na
liberta, tem sofrido pressões por estar enfrentando uma fase ruim de resultados.
Para mim, tudo emoção de torcedor, que não consegue avaliar racionalmente o que
o técnico consegue fazer com o que tem na mãos.
E os corinthianos pedindo a cabeça de Tite, não é a mesma
coisa?
Primeiro, não estou entre os que consideram – pelo menos não
até esse ano – o elenco do Corinthians sensacional. Acho que Tite tem muito
mérito em ter feito um time do qual não se poderia esperar tanto produzir no
limite do que poderia. Em 2011, Castan era apenas uma aposta e se tornou um p*
zagueiro; Paulinho era apenas uma peça de reposição de Elias e Jucilei e virou
o que virou; Fabio Santos era a definição do refugo e ao menos até ano passado
deu conta do recado; Danilo nunca desencantou com Mano e virou a referência
desse time. Ao longo de 2011, Tite recebeu Liedson, Alex e Sheik para trabalhar
e o elenco se qualificou mais, mas ainda assim não era o desfile de estrelas
que “ qualquer burro com sorte faria jogar”. Digo isso para afirmar que reconheço
os méritos do Tite em seu trabalho desempenhado, em especial entre o brasileiro
2011 e a libertadores 2012, com a grande cartada na final do Mundial com
Chelsea.
E hoje? Tenho claro que Andres, ao assumir a presidência em
2007 e começar a planejar a volta à primeira divisão, também traçou um plano de
tornar o Corinthians o que ele já deveria ser há algum tempo, tivessem os
outros presidentes o mínimo de competência de gestão: tornar o Corinthians o
time mais forte do Brasil. Os exemplos desse planejamento são vários: fiel
torcedor, construção do estádio, renegociação de direitos de TV, trazer
jogadores de importância de imagem etc. O planejamento foi cumprido de forma
efetiva e, agora, estamos num segundo momento: mantermos na liderança e
fortalecer essa posição. Então, com todo o respeito, mas um time como o
Botafogo, como o tamanho de torcida e orçamento que tem, com as limitações
financeiras e de estrutura, se planeja para formar um time e, tudo dando certo,
arrancar uma vaga par a liberta. E deve avaliar o desempenho do time e do
técnico com essa lupa. O planejamento feito no Corinthians foi justamente para
não pensarmos como o Botafogo. O Corinthians quer ser o Barcelona no Brasil, e
algum outro time que se esforce para ser o Real Madri e tentar mandar também no
futebol brasileiro. E é para essa nova fase do planejamento para a qual penso
que, dado o andamento das coisas esse ano, Tite não é o nome. O elenco se
qualificou ainda mais para esse ano; já sabíamos que Paulinho ia embora no meio
do ano, que nomes como Danilo e Sheik teriam problemas físicos e de motivação;
era preciso renovação, testar possibilidades, lançar jogadores aos poucos,
aproveitar a base já formada e a menor pressão para treinar jogadas, variações
táticas. Tite (talvez não tenha sido só sua culpa) fez muito pouco disso tudo;
sentou em cima do sucesso construído e foi conservador em quase tudo. As
apostas quase não jogaram; mesmo perdendo, mantivemos o mesmo padrão tático.
Nem o gerenciamento de elenco, que costumava ser seu forte, virou mais –
defendeu demais os que eram da sua panela (talvez por gratidão) e o tal do
merecimento foi pro espaço. Provavelmente sentindo-se confortado pelo discurso
ensaiado da imprensa de que “ um técnico que ganhou o que ganhou não pode estar
errado”, insistiu até não poder mais nos erros com a certeza de que o erro
deveria estar em outro lugar.
Se Tite sair do Corinthians e for para um clube como o Inter
(provável), acho que tem tudo para fazer um excelente trabalho. É um ótimo
técnico, dada a realidade do nosso futebol – no estilo de Muricy, Abel, com as
suas diferenças. Não temos mais Luxemburgos – técnicos vencedores e que façam
times que jogam bonito. O lance é que seu ciclo no Corinthians acabou. 3 anos é
um ótimo tempo para um ciclo vitorioso. “Ah, na Europa é diferente...”. O
escambau, apenas Fergurson é contraexemplo, e o Wenger (que não ganha nada há
uns 8 anos...). O resto é assim também. A saída de Tite será boa para o clube e
para ele. Tem tudo para construir num outro time ciclo de sucesso parecido com
o que teve por aqui, até que (tudo dando certo), dois anos depois a coisa
comece a azedar.
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