quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Mundial é mundial

Ano passado, em referência ao sufoco que o Corinthians passou para vencer o Al Ahly na semi do mundial, um amigo são-paulino veio tirar um barato. Como tenho o hábito de, antes de entrar naquele clima de troca de provocações, tentar uma conversa razoável sobre futebol, argumentei que esses jogos de semi-final de mundial são sempre complicadinhos, pq é um jogo só, o outro time faz o jogo da vida, e afinal são times com alguma qualificação (no caso o time era campeão africano). Ele fez ummuxoxo, já caindo para provocação, dizendo que campeão africano disputando só contra time horrível não queria dizer nada. E argumentou que desde que o mundial tem esse formato, apenas o Inter tinha perdido pro Mazembe; que essa estrutura era só para dizer que era “mundial” e que o que valia era o jogo do sul-americano contra o europeu. (Sim, a tese subjacente é que os dois Toyota cups do São Paulo, por consequência, são tão importantes quanto...).
O Galo foi o segundo (em nove anos) a perder na semi para uma “zebra”. Na verdade, olhando por outra ótica, o segundo em quatro anos, o que dá, nesses 4 anos, uma chance de 50 x 50. Mesmo os que passam, como Corinthians e Santos, sofrem um bocado. (O que me dá coceiras até para levantar uma outra tese: os times que não ganham a libertadores de forma muito convicente, como é, para mim, o caso de Galo e Inter, correm  sérios riscos...) Esse jogo é pedreira. Um amigo me mandou um link sobre um texto que faz colocações interessantes sobre as questões emocionais que os brasileiros enfrentam nesse jogo (http://espnfc.com/blog/_/name/futebolbrasil/id/901?cc=3888). Não são times sensacionais, mas não são tão ruins como muitos pensam. Não são piores do que um Figueirense, do que um Sport. Pensa assim: semi final da Copa do Brasil, mas é um jogo só, em campo neutro, contra a Ponte Preta. Você consideraria um jogo trivial, favas contadas? O São Paulo que o diga...

Voltando: o grande lance é que o futebol de elite sulamericano está anos luz aquém do futebol de elite europeu. A Libertadores é uma competição razoavelmente fácil de ganhar. Qualquer time mais ou menos bem armado, dando uma certa sorte, pode chegar. Nos últimos anos 4 brasileiros diferentes chegaram.  Nas últimas 4 champions, a semi foi Bayern, Barça, Real e mais alguém. O nível de consistência europeu reflete que, por lá, o que recompensa é o mérito. Aqui é um certo acochambro, as circunstâncias, uma combinação de variáveis onde ter um bom time é somente parte do papel. Não me lembro de um europeu tomando sufoco na semi do mundial. Mas na história recente do torneio, utilizando a estatística fria, sulamericanos e resto do mundo entram em igualdade de condições. Esse é o tamanho da diferença. E, sim, claro – mundial é mundial. Torneio Toyota é outra coisa.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Tite, o ético

Já falei aqui que não acho que a passagem de Tite pelo Corinthians tenha sido ruim, ou que ele não tenha muitos méritos pela montanha de conquistas que acumulou no clube. Minha certeza sobe o fato de que sua saída seria o melhor pro time vinha, basicamente, de achar que ele não tinha (como não vinha mostrando, de fato) condições de promover as mudanças das quais o time precisava.
Independentemente de qualquer aspecto técnico, Tite conquistou, da imprensa e de boa parte dos torcedores, aquela aura de “ético”, cara do bem etc – algo parecido com o que Muricy tem. Bom, sempre desconfio quando costumam falar baboseiras dessas de quem quer que seja;  não é preciso ser nenhum gênio do conhecimento da natureza humana para saber que quase ninguém é muito anjinho, em especial trabalhando no futebol.
Tite está na sua última semana de trabalho no clube. Boa parte da imprensa e da torcida considera que o clube tenha cometido um equívoco ao manda-lo embora e, após o anúncio da sua saída, reforçou ainda mais a visão deturpada sobre seu trabalho – enaltecendo os méritos e desconsiderando qualquer crítica que poderia ser feita. Um percentual ainda maior das pessoas que se interessam por futebol (aí considerando inclusive torcedores de outros times) considera que, na questão com Pato, Tite não tem culpa nenhuma. A visão geral é a de que “Pato não jogou bola”, ou que Pato é bichado, ou que é moleque, estrelinha, de que nunca foi nem nunca será craque, entre outras. Pouquíssimas pessoas cogitam a possibilidade muito provável de que uma boa parte do “insucesso” de Pato esse ano tenha sido causada inclusive por Tite, pelo seu esquema tático horroroso do ponto de vista da ofensividade  e por proteger sua panelinha de jogadores. Nesse quesito, Tite está “bem na fita”, não precisa se preocupar com sua imagem ou com que iam pensar – a opinião geral já elegeu Pato como grande vilão e Tite como grande injustiçado.

Então porque cargas dágua o rei da ética Tite, em sua última semana, aproveita a última chance para espezinhar Pato? Para jogar a torcida ainda mais contra ele? Para por mais lenha na fogueira que vem queimando um patrimônio de 40 milhões do clube? Quem não leu, é só googlar – basicamente disse aquilo de sempre, que Pato não tem raça, que não entendeu o Corinthians etc. É nessas horas que a gente vê o caráter da pessoa. Nos  quase 2 anos em que Tite não tinha por onde ser criticado, e era de fato uma unanimidade, nos vimos o “Tite paz e amor”, do ´trabalho’, do ´campo fala’, da ´coerencibilidade’. Nos menos de 6 meses que passou a ser criticado, mesmo por uma minoria (e sendo defendido por quase todo mund), a coisa mudou de figura. Jogou culpa em tudo que é canto, manipulou emocionalmente para conseguir o que queria, trabalhou em cima de toda a fama que conquistou para ter a opinião publica seu favor e tudo o mais. Não teve receio de queimar jogadores (exceção a 2 ou 3 centrais em sua panelinha). Eu faria o mesmo que ele para ter a chance de continuar sendo o técnico do maior time do Brasil e ganhando meus quinhentos mil reais por mês. Mas eu não poso de santinho porque santinho não sou, nem faço a menor questão que me considerem como tal.