O declínio de
desempenho culminou na partida grotesca que o Corinthians jogou quarta. Ontem,
jornalistas de vários canais discutiam "porque o Corinthians tem jogado tão
mal". As minhas conclusões são:
- ok, há um pouco de
acomodação. Os títulos deram ao corinthiano a sensação de que o time era
fabuloso, quando, de fato, boa parte do sucesso do time se deu a uma aplicação
tática e a um desempenho físico fora do comum. A melhor fase do time em termos
de sequência de bons desempenhos, para mim, foi no começo do brasileiro de 2011,
aquela arrancada que nos garantiu o título (porque se dependesse do desempenho a
partir da décima primeira ou segunda rodada até o fim, teríamos ficado para
trás). Ora, o time tinha acabado de perder um paulista para o Santos de forma
até meio deprimente, com metade da torcida torcendo pro Tite cair, e em menos
de 2 meses, com as mesmas peças, tínhamos nos tornado o Barcelona brasileiro? O
elenco de lá para cá se qualificou e muito, mas os melhores desempenhos - e com
isso os títulos - vieram sempre de uma formação tática que, em conjunto,
funcionou muito bem. Ao longo desse período sempre tivemos peças como
Alessandro, FS, PA, Alex, JH, jogadores que, em diferentes níveis, estão longe
de serem gênios. A acomodação leva a um desempenho físico e tático inferior, e o
nível do futebol cai exponencialmente, porque sempre foi, desde o começo, fiado
nesses aspectos.
- Viramos vidraça.
Ora, é bem mais fácil jogar muito quando você é apenas um dos competidores.
Quando passa a ser "o time a ser batido", é mais estudado, todos jogam contra
você com mais atenção, com mais vontade e, pior, conhecendo exatamente seu jeito
de jogar. O time, no geral, tem tido muita dificuldade de lidar com esse
protagonismo. Aí passa a jogar bem pior do que jogava antes.
- Mas, para mim, no
topo de tudo,o problema é do esquema. Começo com a questão: esse esquema já foi
vitorioso, agora não é mais? Esse esquema foi vitorioso em 2 circunstâncias: na
arrancada inicial do BR 11 e no jogo contra o Chelsea. Na arrancada, demorou um
pouco até pegarem o jeito de marcar, a partir daí a coisa não engrenou tanto. No
mundial, fizemos um jogo muito fraco na semi e um excelente desempenho tático
contra o europeu que não nos conhecia e, como é tradicional nesse jogo, até nos
desprezava um pouco. Na liberta 12, por falta de centroavante, o esquema foi
outro. Guerrero chegou e até então Tite tem tentado enfiar goela abaixo o
esquema com 2 supostos meias abertos. Dá certo em certas circunstâncias - contra
o Chelsea, contra o Sp em frangalhos na Recopa e contra um Santos decadente na
final do Paulista. Mas é ineficiente para ser um padrão geral da equipe para 80%
dos jogos mais normais.
Ora, Pato ainda não
disse a que veio, embora fisicamente esteja muito melhor do que no Milan (e no
Milan eu vi ele fazer jogassos, nos poucos que jogava). Guerrero, que desandou a
fazer gol no começo do ano, não está em fase tão ruim mas longe do seu melhor.
Sheik e Romarinho talvez nas suas piores fases de Corinnthians, ao mesmo tempo.
Danilo vem muito abaixo do seu nível nos últimos 6 ou 7 jogos. Edenilson, que se
erra atrás compensa na frente, também vem jogando abaixo. FS, que já era ruim,
mas de vez em quando acertava uns cruzamentos, não produz nada ofensivamente faz
tempo. É tudo coincidência?
Para mim é evidente
que o esquema que só funcionou de vez em quando agora quase nunca funciona. E
mesmo nas vezes que funcionou contou muito com o fator Paulinho. Ficou muito
fácil marcar o Corinthians. Na quarta, de novo, houve outros lances que
demostravam de forma evidente essa questão. Num lance, Ralf está com a bola e,
como não tem para quem tocar, faz o que não gosta muito: sair carregando a bola.
Danilo está no meio, com um volante encostado nele e e outro na sobra. Pato está
na esquerda, com o lateral colado atrás. Romarinho aberto na direita, com o
lateral na bunda dele. Guerrero mais enfiado, com um zagueiro chegando toda hora
com o cotovelo na sua nuca (embora Gaciba tenha visto que a primeira falta em
cima dele foi só no segundo tempo) e outro na sobra. Ralf tenta um passe e, não
sendo seu forte e com um gramado ruim, a bola já chega zuada no Danilo, que não
domina e perde a bola. Não há aproximação. Mesmo num campo bom, Danilo teria que
dominar e esperar alguém se aproximar, o que dá muito tempo dos 2 volantes que
estão na sua cola chegarem. Se a bola for nas pontas, é o mesmo problema. Na
esquerda, Pato ou Sheik tem que conseguir dominar (de costas pro lateral), ou
driblar e sair correndo ou achar o distante Danilo no meio, uma vez que não há
apoio do lateral. Justamente por isso as únicas boas jogadas que tem saído no
ataque tem sido pela direita, com Romarinho e Edenilson. Tite vem batendo na
tecla que com a saída do Paulinho e entrada do Guilherme, ele trocou um volante
infiltrador por um passador, mas que essa troca fo compensada com a entrada do
Edenilson que é mais infiltrador do que o passador Alessandro. Ele só se
esqueceu de um detalhe fundamental: Paulinho era infiltrador pelo meio, área do
campo que o esquema tático do time deixa praticamente deserta. Funcionava pq os
meias abertos espaçavam a defesa adversária e ele entrava como surpresa
justamente onde tinha espaço. Edenilson é infiltrador na faixa de campo que o
adversário povoa justamente porque sabe que é por ali que o Corinthians tenta
jogar. Claro que não funciona muito, embora de vez em quando, na qualidade
individual, Romarinho e Edenilson consigam alguma coisa por ali. E o resto do
time, no resto do campo, nada.
Tite está insistindo
num esquema sem os jogadores para tanto. Pato ainda não mostrou a que veio? Ok,
até eu que acredito nele reconheço. Mas é forçoso reconhecer que vem sendo
escalado errado. É riículo ouvir Tite (e a imprensa concordar) que ele já foi
escalado assim no MIlan. Ele jogou como segundo atacante, flutando em volta do
centralizado. Imagine Tevez em 2005 (guardadas as devidas proporções) fazendo
essa função que Sheik e Romarinho tentam fazer. Daria certo? Contrate qualquer
um baita jogador mundial - Rebery, Robben, Cristiano Ronaldo, Neymar (não que eu
esteja dizendo que Pato é do mesmo nível dele)- e, em vez de usá-lo nas suas
funções tradicionais de segundo atacante com liberdade, coloquem na função
amarrada do meia aberto pela ponta tendo como primeira função segurar o lateral
adversário. Vai dar certo?
Não sou da turma do
"Fora, Tite". Acho que é a hora da direção (talvez alguém do metiê, tipo o Edu)
chamá-lo para conversar e ver o que tá rolando, se não é hora de testar mudanças
na forma de jogar etc. É evidente o baixíssmo nível de produção. Se a defesa
sobra, o ataque sangra. A defesa pode sobrar um pouco menos para que o ataque
renda mais. Nos últimos 3 jogos, foi um gol só, e num penalty esquisito. Não dá,
e não é culpa de ninguém em especial com a bola não. E com um elenco desse não
dá para acreditar que quando o Renato Augusto não joga, não há solução possível
para o time jogar bem.