Em 2009, após os títulos da Copa-br, a diretoria vendeu Douglas, Cristian e André Santos, desmontando a espinha dorsal dum time vencedor. O então diretor Mario Gobbi saiu-se com a frase "futebol é business", que foi ridicularizada por torcedores e mídia. Na época, concordei com a diretoria no sentido de que, muitas vezes, pouco se pode fazer quando chega uma boa proposta: jogador está louco para ir ganhar o quintúplo, empresário louco para ganhar a comissão, investidores loucos para realizarem o lucro etc. Poder-se-ia fazer um esforço financeiro tremendo para manter, mas nem sempre há grana e, as vezes, não há interesse.
3 anos depois, acho que o panorama mudou, e times como o Corinthians, raríssimas exceções feitas, não deveriam vender jogadores que encaixaram bem dos volantes para trás. Digo dos volantes para trás porque as propostas financeiras são sempre desproporcionais à importância para o time. A importância de ter um Lucas no elenco do São Paulo não é muito maior do que ter um Ralf como volante (na hipótese mais benévola; na mais realista, ter o Ralf contribui mais); ainda assim, a proposta mais alta que poderia vir para o Ralf seria uns 6 milhões de euros com 300 mil reais de salário; já para o Lucas é capaz de alguém chegar oferecendo 16, 17 milhões de euros e 600 mil de salário.
Voltando...o tema vem à tona agora com o que parece ser a já consumada venda do Castan. A diretoria deveria tentar mantê-lo, mas como tudo nesses negócios as coisas são mais complexas do que parecem a princípio. A oferta parece ser de 5 milhões de Euros (o que dá uns 13 milhões de reais) e salários de cerca de 325 mil reais mensais.
Se o jogador quer ir, é difícil segurar (diria que até não recomendável). Existe aquela história do sonho de todo mundo ir jogar na Europa - é status, um certo rótulo de "sou bem sucedido"; mas como tudo na vida aposto que a questão financeira fala mais alto. Jogar na Europa, anos atrás, significa um salto triplo carpado financeiro, ganhar muito mais do que se ganhava aqui. Hoje essas diferenças são menores. E ir para a Europa é sempre trocar uma vaga de titular garantido num grande clube brasileiro, na sua casa, perto da família, adaptado, para brigar por vaga em lugar desconhecido, frio, longe de casa. Se a grana é muito boa, cobre todos esses problemas; se a diferença é pequena...Os 325 mil do Castan lá, consideradas as diferenças fiscais, equivalem a uns 270 mil aqui. Claro, não dá para dar um salário desse pro cara do nada porque ele recebeu uma proposta; há problemas no elenco a se gerenciar, em especial para um clube que quer manter um elenco por muito tempo, com peças de reposição etc. Mas uma renovação de contrato, aumentando para uns 200 mil, e dando umas luvas parceladas (lembrando que na transferência ele ia levar quase 2 milhões de reais), acho que dá para segurar. Ninguém quer mudar de um bom emprego por pouca diferença financeira; você muda porque está insatisfeito ou porque vai ganhar bem mais. E se bem assessorado, um jogador do Corinthians que olhe para o panorama futuro sabe que pode ter tanta exposição por aqui quanto teria num clube de segunda linha na Europa.
Talvez a maior dificuldade sejam os investidores, dado que em alguns desses jogadores (Castan é um deles) o Corinthians tem um % muito pequeno dos direitos. Ainda acho que vale a pena tentar algo como comprar um % desses direitos pelo mesmo valor proposto pelo clube europeu - digamos, 30% dos direitos por 1,5 milhão de euro - para manter o investidor mais ou menos satisfeito e combinar que, se chegar, futuramente, uma proposta de uns 8 milhões de euros, vende-se o jogador. Castan tem uma convocação quase certa para a seleção após a Olimpíada, é novo, tem tudo para crescer. É um investimento viável.
Noves fora: acho que a mentalidade tem de ser essa - fazer esforços para manter. Nem sempre é viável, as vezes é quase impossível, mas tem de se tentar. Se chegar uma proposta muito acima (digamos, 10 milhões de euros e 500 mil de salário), aí não tem jeito...
ERRATA: jornais dão conta de que os direitos econômicos do Castan pertecem 100% ao Corinthians. Assim sendo, menos um motivo para vender. A avaliar a proposta financeira de salários ao jogador; pelo valor ao clube, é pouco para o melhor zagueiro pela esquerda jogando no Brasil e que encaixou tão bem.