Ano passado, em referência ao sufoco que o Corinthians
passou para vencer o Al Ahly na semi do mundial, um amigo são-paulino veio tirar
um barato. Como tenho o hábito de, antes de entrar naquele clima de troca de
provocações, tentar uma conversa razoável sobre futebol, argumentei que esses
jogos de semi-final de mundial são sempre complicadinhos, pq é um jogo só, o
outro time faz o jogo da vida, e afinal são times com alguma qualificação (no
caso o time era campeão africano). Ele fez ummuxoxo, já caindo para provocação,
dizendo que campeão africano disputando só contra time horrível não queria
dizer nada. E argumentou que desde que o mundial tem esse formato, apenas o
Inter tinha perdido pro Mazembe; que essa estrutura era só para dizer que era “mundial”
e que o que valia era o jogo do sul-americano contra o europeu. (Sim, a tese
subjacente é que os dois Toyota cups do São Paulo, por consequência, são tão
importantes quanto...).
O Galo foi o segundo (em nove anos) a perder na semi para
uma “zebra”. Na verdade, olhando por outra ótica, o segundo em quatro anos, o
que dá, nesses 4 anos, uma chance de 50 x 50. Mesmo os que passam, como
Corinthians e Santos, sofrem um bocado. (O que me dá coceiras até para levantar
uma outra tese: os times que não ganham a libertadores de forma muito
convicente, como é, para mim, o caso de Galo e Inter, correm sérios riscos...) Esse jogo é pedreira. Um
amigo me mandou um link sobre um texto que faz colocações interessantes sobre
as questões emocionais que os brasileiros enfrentam nesse jogo (http://espnfc.com/blog/_/name/futebolbrasil/id/901?cc=3888).
Não são times sensacionais, mas não são tão ruins como muitos pensam. Não são
piores do que um Figueirense, do que um Sport. Pensa assim: semi final da Copa
do Brasil, mas é um jogo só, em campo neutro, contra a Ponte Preta. Você
consideraria um jogo trivial, favas contadas? O São Paulo que o diga...
Voltando: o grande lance é que o futebol de elite
sulamericano está anos luz aquém do futebol de elite europeu. A Libertadores é
uma competição razoavelmente fácil de ganhar. Qualquer time mais ou menos bem
armado, dando uma certa sorte, pode chegar. Nos últimos anos 4 brasileiros
diferentes chegaram. Nas últimas 4
champions, a semi foi Bayern, Barça, Real e mais alguém. O nível de
consistência europeu reflete que, por lá, o que recompensa é o mérito. Aqui é
um certo acochambro, as circunstâncias, uma combinação de variáveis onde ter um
bom time é somente parte do papel. Não me lembro de um europeu tomando sufoco
na semi do mundial. Mas na história recente do torneio, utilizando a
estatística fria, sulamericanos e resto do mundo entram em igualdade de
condições. Esse é o tamanho da diferença. E, sim, claro – mundial é mundial.
Torneio Toyota é outra coisa.