segunda-feira, 27 de maio de 2013

O que o Bayern tem a nos ensinar

Esse texto vem por conta - claro - do jogo de sábado. Mas não só disso; acompanho razoavelmente o futebol europeu (assisto pouquíssimos jogos inteiros, mas vejo partes de vários jogos). Minha idéia primeira era escrever sobre o futebol europeu de modo geral e coisas (táticas e comportamentais) que deveríamos aprender com eles. Mas a questão tática do Bayern, por me parecer com o estilo que Tite tenta impor o Corinthians, me pareceu mais importante.

O quadrado

O padrão tático de Tite no Corinthians se parece muito, em teoria, com o padrão do Bayern. A linha de quatro atrás com laterais que apoiam pouco - se revezam no apoio e dificilmente chegam à linha de fundo. Dois volantes fechando o meio, três semi-meias e um centroavante enfiado. Ok, aqui as diferenças começam a aparecer. Voltemos aos volantes depois e falemos antes do quarteto na frente. Os 4 do Bayern (mas, em especial, os 2 'pontas', Ribery e Robben) participam mais do jogo, guardam menos posição e se movimentam mais. Os 2 gols do sábado são exemplos disso: Robben conduz a bola pela meia esquerda (embora atue pela direita), e quando recebe de volta em diagonal, Muller já está na entrada da área enquanto Mandžukić (claro que eu googlei para escrever corretamente!) esperava quase dentro do gol. Aliás, outro detalhe: os 3 meias entram muito mais dentro da área. No segundo gol, Ribery faz o pivô para Robben entrar na diagonal. Além das trocas de posição mais constante, o deslocamento é diferente. Robben canhoto e Ribery destro atuam nas posições invertidas, o que faz com que naturalmente busquem mais a diagonal do que a ponta, buscando a aproximação com um dos outros três companheiros para tabelas e infiltrações (a jogada mais manjada do Robben é cortar pro meio e chutar). Você vê pouco no estilo Bayern aqueles toques de lado sem objetividade porque ninguém está infiltrando ou dando uma opção razoável de enfiada.
No Corinthians, a ocupação do espaço é diferente; Guerrero fica enfiado, ou vem tentar trazer a marcação para abrir espaços. Na formação mais recente, Romarinho fica espetado na direita, Danilo na esquerda, e Sheik tenta flutuar pelo meio (as vezes trocando com Danilo). As peças ficam mais distantes. Romarinho destro joga na direita, Danilo canhoto na esquerda, naturalmente tendem a buscar menos a diagonal (e o Sheik quando joga na esquerda gosta de driblar mais para fora do que para dentro). Ultimamente os lances mais perigosos tem saído quando Romarinho recebe, mesmo enfiado na ponta, mas já mata saindo do marcador se deslocamento pro meio (coisa que faz muito bem) - quebra a marcação e chama alguém para se aproximar e tabelar. Renato Augusto também compreendeu isso em alguns jogos e pediu pro Tite para jogar na esquerda (contra o Santos na fase classificatória do paulistão, por ex).
Desse posicionamento mais distante, entendo que Tite tenta abrir a defesa adversária e dar espaço para a chegada do Paulinho. Aí temos a diferença dos volantes: Martinez e Schweinsteiger (outro google) são dois volantes com funções parecidas; marcam e saem pro jogo mais ou menos na mesma proporção. É diferente da disposição de Ralf (cão de guarda e cobertura de laterais) e Paulinho (mais saída de bola, quase um meia). O problema é que quando Paulinho não joga, o time não joga.
Diferenças técnicas à parte, gosto mais da disposição tática do atual campeão de tudo. A disposição corinthiana faria sentido com laterais que apoiam - lembram do triângulo Kleber, Gil e Ricardinho? Buscar a ponta funciona quando você tem um lado muito forte e dificulta muito a marcação ou tem um elemento surpresa no meio (como o Paulinho já foi um dia). Do contrário, é só trancar os lados com laterais subindo pouco (como o Boca fez) e você congela a criação - os atacantes só recebem bolas mais longas, matam com dificuldade e não tem alguém por perto para triangular. Quase todo mundo no Brasil aprendeu a marcar o Corinthians. O modelo corinthiano lembra mais o do Real Madri, que é mais estático. Di Maria dificilmente sai da direita e Ozil também flutua mais entre meia e esquerda. Só que os caras tem Cristiano Ronaldo, que faz gol jogo sim outro também e (claro) deve ter liberdade para flutuar meio por onde quiser. Ainda assim o Real não foi de longe o melhor trabalho do Mourinho e ele deixa tendo ganhado apenas um espanhol.

Nova formação



Uma formação corinthiana mais 'a la Bayern" depende de jogadores com características de se adaptar ao sistema. Nessa acho que Renato Augusto e Pato viriam a calhar; Renato é um meia-atacante clássico, que jogava pelo meio e já mostrou que pode atuar muito bem na direita e na esquerda. Pato pode fazer a do Muller, sendo o que atua mais pelo meio e que chega mais dentro da área, dividindo a atenção dos zagueiros com o centroavante. E Danilo pode continuar tendo seu lugar cativo no time, talvez caindo pela direita. Na época do Mano, pouco antes dele sair para a seleção, ele já ensaiava uma formação com 2 meias com Danilo invertido (Bruno César ficava mais pela esquerda), e era algo que parecia promissor. O problema é a capacidade física - essa movimentação exige uma condição acima da média que, por óbvio, Danilo não tem. Nessa Sheik e Romarinho como opções para revezar quando Danilo precisar de recuperação encaixam bem.

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